Infidelidade e Pornografia
- Plinio P.S Benfica
- 15 de dez. de 2016
- 5 min de leitura

A vinte anos atrás a infidelidade era um comportamento fácil de definir. Eram simplesmente relações existentes fora de um casamento que envolvia algum tipo de contato físico e / ou sexual. No passado, enganar alguém ou um cônjuge implicava muitas vezes em se ausentar da convivência da vida familiar e de seus relacionamentos íntimos. Equivale a dizer que para manter o comportamento de infidelidade as pessoas teriam que estar fisicamente ausentes do seu dia-a-dia. Ainda em outras situações poderia ser acrescentado o conceito de traição emocional ou infidelidade emocional, o que significaria a existência de um valor emocional significativo, que poderia ser considerado um dos sinais da infidelidade, mesmo sem um componente sexual ou físico.
Atualmente as redes sociais como Facebook, chats online, twitter e whatsapp deram a infidelidade uma variedade de novos nomes e novas maneiras de ser realizada. Na era da Internet a infidelidade online e casual através de vídeo são apenas algumas das muitas formas que a infidelidade pode ocorrer, muitas vezes sem qualquer contato físico entre os parceiros.
Apesar dos avanços tecnológicos oferecidos pela Internet, o que não mudou é a quantidade de tempo e energia emocional roubadas dos relacionamentos importantes e da vida familiar e desviados para uma vida sexual e romântica externa, que muitas vezes envolvem também a masturbação compulsiva. Os adictos em recuperação envolvidos com a infidelidade podem argumentar que não estavam traindo, ou que nunca tocaram em ninguém. Mas seus cônjuges sabem que a ausência emocional é dolorosa, e tanto faz se a distância foi provocada por uma relação na internet ou se está havendo contato físico.
As causas da infidelidade no começo da recuperação são complexas. Apesar de adictos em recuperação justificarem seus comportamentos com afirmações do tipo: "Minha mulher não está interessada em mim", "Ela ganhou tanto peso que eu não estou interessado", ou "Eu quero ter sexo quente e emocionante, e não a mesma coisa de sempre". Declarações deste tipo mostram mais sobre o ego e o narcisismo e menos sobre as verdadeiras causas que envolvem a infidelidade. Aqueles que justificam sua infidelidade jogando a culpa no parceiro muitas das vezes estão tentando se anestesiar de seus sentimentos desconfortáveis. Simplesmente não estão sendo honestos consigo mesmos, e tendem a se tornar cada vez mais infelizes, não importa o quão "quente e emocionante" a sua vida sexual possa parecer.
Em muitos casos a infidelidade foi justificada pelo uso de álcool e drogas. Agora em recuperação não existe mais esta justificativa, mas pode persistir a dúvida sobre o quão consciente o adicto estava ao envolver-se em tais comportamentos. Nestes casos o desafio para o cônjuge comprometido com a superação da infidelidade é quase sempre desenvolver autocuidados. Os cônjuges de um parceiro infiel podem se tornar tão presos em “vigiar” o que ele/ela está fazendo, dizendo, aonde estão, que não conseguem cuidar bem emocionalmente e fisicamente de si mesmos. O cônjuge de alguém que está traindo precisa encontrar em si próprio sua motivação para recuperação.
Outro problema que acometem muitos dos adictos em recuperação é a pornografia. Que hoje também pode ser alimentada através da Internet com visualizações on-line de fotos, download de vídeos pornográficos, ou fazendo sexo webcam (remunerado e não remunerado). Alguns usam a Internet para simplesmente ver imagens enquanto outros, eventualmente, acabam usando a Internet como um veículo para se reunir com parceiros sexuais anônimos. Da mesma forma como na adicção ativa, os adictos podem substituir a substância por pornografia e esta por sua vez substitui os relacionamentos importantes e compromissos. A pornografia também inclui a frequência em lugares como clubes de strip. Enquanto alguns adictos que usam a pornografia utilizam a masturbação compulsiva, como componente ativo de sua compulsão, outros se envolvem minimamente no ato sexual em si.
Alguns sinais de problemas com a pornografia podem incluir:
Incapacidade de parar o comportamento (s) e usar pornografia, apesar das tentativas anteriores de fazê-lo.
Reação de raiva ou irritabilidade, se solicitado a parar.
Ocultar ou tentando manter em segredo a totalidade ou uma parte do uso de pornografia.
Viver uma vida dupla ou secretas relacionada à pornografia.
Continuar o comportamento apesar das consequências óbvias, como a perda de um relacionamento ou perda de emprego.
Gastar mais tempo do que o pretendido, (perdendo tempo).
A Recuperação da dependência de pornografia requer honestidade e continuidade. O adicto em sexo envolvido com a pornografia na Internet deve chegar a seu próprio convencimento em fazer uma mudança, uma decisão que muitas vezes vem muito mais tarde do que seus parceiros podem tolerar.
Abaixo são listadas algumas dicas para lidar com o comportamento compulsivo por pornografia:
Falar detalhadamente sobre estas questões com um amigo de confiança ou terapeuta que deverá ser tão honesto com você quanto você foi com ele.
Fazer um plano de prevenção da recaída especifico para o comportamento compulsivo por pornografia.
Colocar dispositivos de rastreamento e de bloqueio em seu computador ou celular smartphone para que os outros (que não seja seu cônjuge) possa monitorar seu comportamento na internet.
Como definir sua sobriedade nestes casos. Para que a recuperação de qualquer adicção ocorra, deve haver alguma definição de sobriedade. Para os adictos a álcool esta é uma definição simples, alcoólatras e adictos em drogas definem a sobriedade como sendo a quantidade de tempo que se abstiveram do uso de álcool e outras substâncias químicas que alteram a mente. No entanto para o adicto em recuperação que tem problemas com a infidelidade e a pornografia definir a sobriedade pode ser um desfio. Ao contrário da sobriedade do uso de substâncias, a sobriedade nestas áreas específicas raramente é considerada pelo parâmetro da total abstinência, embora às vezes pessoas que se recuperam podem lançar mão da completa abstinência sexual (celibato) por curtos períodos de tempo (3 meses), enquanto durante este tempo estão ganhando uma perspectiva pessoal para se fortalecer para uma etapa seguinte. De forma prática a sobriedade dentro destes contextos de infidelidade e pornografia é definida através de um contrato que o adicto faz entre ele seu terapeuta. Estes contratos ou "planos de sexo" são sempre escritos e envolvem definições claras a respeito de comportamentos concretos em que o adicto se compromete a abster-se de forma a definir a sua sobriedade.
Alguns planos de recuperação sexual têm definições como os exemplos abaixo:
"Nenhuma atividade sexual de qualquer tipo fora de uma relação de compromisso conjugal".
Para outros, a sobriedade sexual pode ser descrita como a abstinência de um tipo específicode atividade sexual que faça com que a pessoa venha a sentir vergonha, e tenha que manter segredos ou que seja ilegal ou abusiva aos olhos dos outros.Estas definições mais personalizadas podem mudar ao longo do tempo de acordo como a recuperação evolui. Um exemplo de tal plano poderia ser:"Estou sóbrio enquanto eu não pagar por sexo, não ir a clubes de strip-tease e não usar pornografia".Outro exemplo poderia ser: "Estou sóbrio enquanto eu não me envolver em sexo anônimo, sexo em locais públicos ou relações sexuais com pessoas através de linhas de telefone ou computador". Além de uma definição clara dos comportamentos específicos indesejados, o motivo básico para um plano, é oferecer ao adicto um lembrete de quando ele está ou não em recuperação. Quando confrontados com situações que envolvem grande excitação, logo aparece a dificuldades do adicto em manter um foco claro em suas crenças pessoais, valores e metas. Nestes momentos não ter fronteiras claramente definidas, interfere nas decisões da recuperação e como resultado torna a pessoa vulnerável. O plano de recuperação ajuda a manter um foco claro sobre quais opções estão alinhadas (ou não) com seus limites de recuperação. Independentemente do motivo ou situação momentânea. Essas definições deverão ser sempre discutidas com outra pessoa, de preferência seu terapeuta.
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