top of page

DISFARÇADO DE AMOR



Uma característica das pessoas codependentes é que elas continuadamente agem colocando sua relação de mãe ou de filho(a), esposo(a) ou amigo(a) como mais importante que a solução do problema. Este comportamento reduz as possibilidades de intervenções eficazes. Cria-se um filtro perverso, onde somente serão adotadas as intervenções que não interferirem negativamente nestas relações. Os especialistas da área de marketing afirmam que você pode vender qualquer produto desde que ele seja bem anunciado, em outras palavras que tenha um convincente papel de embrulho. Os especialistas da área de gastronomia contam que a apresentação do prato representa cinquenta por cento de seu sucesso. Dizem os especialistas da área do tratamento da adicção que a codependencia é mais destrutiva quanto mais ela é travestida de amor. O amor, talvez seja a mais eficiente forma de se autoenganar a fazer algo.Emocionalmente comprometido, o familiar mistura a pessoa com a adição e confunde a intervenção à doença com um ataque pessoal. Algo importante e básico para lembrar é que as pessoas são diferentes de suas doenças. Se não houver esta separação a recuperação da codependencia é confusa e muito difícil. Construir um “desligamento emocional” não quer dizer que o familiar, diante de situações críticas, não irá sentir culpa, raiva, frustração ou pena. É necessário entender que o desligamento emocional não pode ser realizado em todas as situações. Uma mãe não pode se desligar da relação pessoal que tem com o filho, mas deve se desligar da raiva que seu comportamento doente provoca. É necessário que o familiar se desligue emocionalmente dos efeitos da adicção, entretanto é infinitamente mais difícil desligar-se da pessoa. Desligar-se não é um evento, está mais para um processo, um estado progressivo. Portando, estar em desligamento significa não tomar atitudes contaminadas pela raiva, culpa ou vingança, apesar de possivelmente estar sentindo tudo isto. Nos momentos de crise é melhor agir com autocontrole. Nestes casos é melhor se utilizar de quem não está emocionalmente atado a pessoa.As opções mais eficazes partem da premissa de valorizar o resultado do tratamento e não a relação com o adicto, em outras palavras, não tratamos um filho, pai, esposo ou amigo. Tratamos a doença. Entretanto, ao valorizar o resultado beneficiamos a pessoa doente.As intervenções que servem de ponte para a recuperação quase sempre estão atreladas a deterioração inicial da relação pessoal. Mas a melhora que resulta dessas intervenções traz consigo uma mudança de parâmetros, e elas podem voltar a se estabilizar sobre outras condições. Ocorre que mais da metade dos familiares não querem mudar os parâmetros antigos, querem apenas que “ele pare de usar”. Que parâmetros são estes? São basicamente os parâmetros utilizados para as trocas que existem entre as pessoas da família. É por exemplo o parâmetro de justiça que alguns pais adotam. “Se eu der ou proporcionar uma coisa para um filho o outro tem que receber o mesmo”. Desta forma, se um pai der um carro para um filho que estuda trabalha, ele também terá que dar a mesma coisa para o outro que não estuda não trabalha e usa drogas. Isto também ocorre em outros relacionamentos como o casamento. A esposa que mantem o sonho de ter um marido provedor e controlador das finanças da casa. Se ele desenvolve adicção, isto pode se tornar um pesadelo. Os dois casos têm algo em comum. A inflexibilidade do familiar diante das condições da doença da adicção. Isto acaba promovendo mais doença. Desta forma o codependente tenta insistentemente aplicar regras de inerentes a relacionamentos saudáveis no seu relacionamento doente. Então, agora temos um cenário pouco propicio para a recuperação. Por um lado, pode haver um codependente com medo de estragar seu relacionamento com a pessoa. E de outro, um adicto que condiciona seu relacionamento pessoal com o familiar à manutenção dos antigos parâmetros de trocas. O tratamento não pode ser utilizado como escudo para proteger o codependente, ou espada para atacar o adicto. Por este prisma a codependencia pode ser formulada como o comportamento de supervalorizar o relacionamento com o adicto em detrimento da recuperação da adicção. É uma forma disfuncional em que uma pessoa (geralmente um familiar), diante da adicção de outra, tenta buscar segurança, basicamente se utilizando de quatro armas competentemente disfarçadas de amor:1 – A facilitação – Facilitar é o mesmo que “salvar” a adicção. É um comportamento nocivo em si, porque não salva a pessoa e não salva a recuperação, mas, ao contrário do esperado salva a adicção. Portanto não é uma forma de apoio saudável. Neste caso, facilitar pode ser definido como agir ativamente para resolver problemas causados pela adicção. Não pode ser confundida com a facilitação da recuperação. Procurar tratamento é uma atitude de facilitação da recuperação, enquanto pagar a conta do traficante pode ser uma atitude de facilitação da adicção.2 – O controle – O controle se define como, comportamentos na tentativa de controlar o adicto (e não a adicção). Existem atitudes que promovem a recuperação, isto não faz parte da doença, é diferente do “controle codependente”. O familiar não deve controlar o adicto mas deve controlar os efeitos da adição, para que ela não prossiga invadindo e prejudicando a sua vida, o nome disto é limite. Uma mesma atitude pode ser doente (codependente) e saudável dependendo da situação. Por exemplo, controlar dinheiro, pode ser um comportamento saudável na medida em que é feito atendendo a necessidade de não expor o adicto em recuperação a sinalizadores aos quais ele ainda não consegue lidar, por conseguinte fazendo parte de um plano que gradualmente vai entregando a responsabilidade de acordo com o ganho de habilidades. Todavia, controlar dinheiro sem objetivo algum de crescimento, apenas para se sentir seguro é disfuncional, é controlar a pessoa e não promove recuperação. O controlador de forma geral tem medo de ser controlado e passa a entender que o terapeuta vai fazer isto. O que não é verdade. Não é o controle da pessoa que trará resultados e sim o controle da adição.3 – A indiferença – A indiferença, no caso, é em relação a pessoa e não a adicção. Pode ser definida como um estado em que a pessoa não sente nem sofre. Não é a mesma coisa e não pode ser confundida com o “desligamento emocional”. O codependente que aparenta ser indiferente a pessoa, na verdade quase sempre não é indiferente a adicção, pois sente raiva e culpa mas demonstra não sentir nada e principalmente não toma atitude funcional alguma. O familiar que deixa de falar com o adicto e ao mesmo tempo continua pagando a luz, agua, lavando a roupa ou mesmo morando junto, é indiferente com a pessoa, mas não é indiferente com a doença e muito menos está exercitando o desligamento emocional.4 – A manipulação – manipular é o mesmo que “movimentar” situações, pensamentos, sentimentos e ações de uma pessoa para obter algum ganho. O familiar pode manipular a pessoa, mas não consegue manipular a adicção. Querer promover a recuperação através de atitudes manipuladoras não altera o curso da adicção. Podem gerar um alivio imediato, mas não produz continuidade. Em muitos casos o adicto se deixa manipular para que não ter que mudar. Quem está manipulando quem?










Comece a escrever seu post aqui. Você pode inserir imagens e vídeos ao clicar nos ícones acima.


 
 
 

Comments


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page